domingo, 10 de julho de 2011

O menino, seus óculos e sua jóia.

Chegara ao fim de mais uma jornada, mas o menino sentia, das pontas dos dedos até a boca semicerrada, que aquele “fim” não passava de um começo, não passava de uma projeção do que seria o imaginado.

Pensava estar andando em círculos. Que nada! Eu estava é com os óculos embaçados – dizia. Atrás dele estavam as ideias, com ele estavam os acontecimentos e em sua frente aquilo que poderia ser um discurso; a linha entre o menino e esse discurso era tênue e a qualquer momento ela poderia se partir.

Nos encontros marcados com os outros de sua idade e vontade passava mal, seus nervos reconhecidos como “de aço” derretiam e davam piruetas, forçavam-no a preferir se ausentar a comparecer naquilo que o deixava com os cabelos pulando de sua cabeça em direção ao chão.

O menino, vez sim, vez não, queria ar.

O menino, vez sim, vez não, queria chorar.

E era nesses dias que se ausentava que seus óculos, agora sujos de graxa, repousavam sobre sua escrivaninha e deixavam o menino pensar naquilo que estava fazendo com seu bem precioso. O teatro, a jóia mais rara pra ele estava levando porradas, a todo momento ele sentia que estavam ferindo seus princípios. E quem disse que o teatro, principalmente o tão amado por ele necessitava de princípios? Alguém, mas ele não lembrava quem; e por isso, mais tarde, decidiu esquecer de vez e não forçar a memória a trazer coisas a sua cabeça das quais não lhe interessavam mais.

Dias a fio trabalhando discursos dos outros, burilando espaços mais que conhecidos e suportando aquilo que mais temia até então: trabalho com/em um não-grupo.

Todos foram caminhando juntos em direções diferentes, guiados por faróis opostos e querendo falar línguas que não sabiam.


QUEBRA

Na realidade todos já falam essas línguas, e escolhiam direções e faróis.

VOLTANDO AO TEXTO


De repente um estalo. E estalos são clássicos, como dizia o querido companheiro do menino: Renné de Obaldia na voz de Dona Garra em O Defunto. Seus óculos não estavam embaçados e nem sujos de graxa, mas o menino tinha fechado os olhos, descobriu que dava muita importância a sua preciosidade, não que não devesse levar o teatro a sério, mas também não é assim que se faz arte, santificando-a. Percebeu ainda que sua jóia não levava porradas, mas era lapidada aos poucos e com instrumentos até certo ponto rudimentares. E vejam só, seu discurso estava ali, e não só o seu, mas estava junto com tantos outros discursos e assim se fazia outros tantos que se perdia de vista nos olhos do público.

Queria falar.

E falou.

Queria atuar.

E atuou.

Queria fazer teatro.

E fez mais que isso.



obs: relatório final entregue a Professora Ana Carneiro para a disciplina Interpretação III (UFU - Universidade Federal de Uberlândia).

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